HOJE CONTINUAREMOS COM A PROBLEMÁTICA RELACIONAL DOS NATIVOS COM ASPETOS TENSIONAIS DE URANO À VÉNUS
Quando um
planeta pessoal ou do ego (Sol, Lua, Mercúrio, Vénus e Marte) está aspetado a
um planeta lento (Urano, Netuno e Plutão), o processo de transformação
correspondente só ocorre quando tiver sido feito o trabalho interior.
No caso de
Urano, esse processo de transformação envolve um trabalho interior de
libertação dos diversos condicionalismos que aprisionam o nativo, não o deixam
ser livre e não o deixam ir mais longe na descoberta de quem é de fato. Se no mapa do nativo, o Urano estiver tensionalmente ligado à Vénus, vai haver
resistência no processo de transformação, o nativo terá tendência para continuar com o mesmo
padrão relacional e irá continuar a atrair o mesmo tipo de parceiros, os quais,
afinal, possuem caraterísticas relacionais ajustadas ao estado evolutivo do
padrão relacional do nativo.
Para estes
nativos, os relacionamentos acontecem quando aparece alguém que lhes acorda o sentimento
do novo, diferente e excitante. Quando isso acontece, o nativo avança para o relacionamento,
mas só porque houve ali qualquer aspeto que lhe "bateu forte". Mas no
fundo não avança ainda pelo outro, mas avança porque o outro lhe permitirá
saber mais sobre ele próprio.
Urano, regente do
signo de Aquário, apela a que venhamos aprender a viver relações de igualdade,
liberdade e fraternidade, ou seja, que venhamos viver relações de amor percecionando
o outro como um ser igual a nós. No entanto, apesar das pessoas com aspetos
tensionais de Vénus a Urano apreciarem a diferença, e sentirem-se atraídas e atraírem,
muitas vezes, pessoas de meios sociais diferentes, isso não significa que as
sintam como iguais e respeitem a liberdade dessas pessoas. De fato, para
perceberem em que é que o outro é igual a elas, é necessário, em primeiro lugar,
descobrirem quem são de fato. Quando conseguirem transformar-se e perceber quem
de fato são, aí sim, irão respeitar a necessidade do outro também de se
descobrir a si próprio.
Existem dois
padrões relacionais associados aos maus aspetos de Urano à Vénus. Um deles é o
padrão baseado na dependência e o outro, é o baseado na liberdade. Vejamos com
um pouco mais de pormenor cada um dos padrões referidos.
PADRÃO RELACIONAL BASEADO NA
DEPENDÊNCIA
No padrão
baseado na dependência, o nativo irá atrair pessoas mais fracas e irá fomentar a
dependência delas em relação a si próprio. Deste modo, o nativo sentir-se-á forte
e seguro porque existe alguém fraco por detrás dele. O único senão é que o
nativo fica preso. Neste padrão o nativo tem tanto medo de ser ele próprio que
vive em função dos valores do outro e não à custa dos seus próprios valores. Evidentemente,
que neste caso, deixa de ser livre, no sentido que não consegue perceber quem
de fato é. No entanto, o apelo uraniano é muito forte e o indivíduo será
forçado a encontrar os próprios valores nesta vida. E a forma utilizada será a
via da comparação, ou seja, é através da constatação dos valores dos outros que
o nativo começará a perceber quais os valores dos outros com os quais se
identifica e aqueles com os quais não se identifica. E seguramente será por
isso que estes nativos adoram viver experiências com pessoas com tipos de vida
e ideias diferentes. Através da multiplicidade de experiências com pessoas
diferentes, começam gradualmente a perceber com o que se identificam e com o
que não se identificam, e consequentemente, a saber quem são de fato. Mas para
saberem com o que se identificam precisam de experienciar em primeiro lugar a
não identificação ou desidentificação, ou seja, a resolução dos conflitos
relacionais faz-se através de trabalho interior, sobre as vivências de desidentificação. Estes nativos só saberão o que querem quando souberem o que não querem, ou seja, as pessoas ganham consciência do
que querem quando experienciam o que não querem. A pessoa conhece-se muito mais por
aquilo que o outro lhe diz que ela não é, do que por aquilo que o outro lhe diz
que ela é. Flávia Monsaraz costumava dizer que nós percebemos o que é o amor
tendo experiências de desamor, ou seja: Eu
sei quem sou por aquilo que o outro não gosta de mim. Eu conheço-me e descubro-me quando a relação
está mal e não quando está bem. Quando, numa relação, tudo está e flui bem, não
há consciência relacional.
A consciência
nasce, de fato, através da sensação de fim, de limite e de dor, sendo o
relacionamento uma área humana propícia à experienciação desta sensação. E com
o aparecimento da sensação começa a autodescoberta.
E como é feita essa auto descoberta? Como é que um
relacionamento diz à pessoa qualquer coisa que ela não sabe sobre ela própria?
A resposta é
muito simples e assenta no fato de, no geral, a maior parte das relações, a
partir de certa altura, começarem a não devolver ou a não darem qualquer coisa.
O nativo começa então a sentir-se mal e começa a perguntar a si próprio se tem
ou não alguma responsabilidade no desmoronar relacional. De fato, começamos um
relacionamento a querer união, fusão, e passado algum tempo sentimo-nos desunidos,
desfusionais, separados do outro. O outro faz-nos sentir que não está connosco
e quando tal acontece, vemo-nos obrigados a saber quem é que somos. Quando a
pessoa percebe o que é que tem ou não a ver com a situação, então toma
consciência de quem é. Enquanto a relação continua e ela se sente satisfeita,
ela não irá crescer nas relações. A relação existe para a pessoa se observar
como um ser separado e sozinho. Há medida que a pessoa vai percebendo o que tem
de perceber sobre si mesma, começa a por ordem em si mesma, ou seja, começa a
estruturar-se, deixa de depender ou de ter a expetativa de que o outro esteja
na relação para lhe dar qualquer coisa. De fato, o outro não está na relação para
dar, mas para mostrar qualquer coisa que a pessoa não sabia sobre ela própria,
de modo a poder descobrir-se. Mas primeiro tem que descobrir quem é que não é,
que é o que o outro está lá para induzir. É um processo de crescimento, mas por
separação. E esta separação leva a quê? Leva a pessoa, em última instância, a
não depender do outro. Nós dependemos porque achamos que o outro nos dá coisas
que nós sozinhos, não teríamos. Só que em dada altura percebemos que temos é de
ir buscar as coisas dentro de nós. O outro está lá apenas para nos ajudar a
compreender isso. Quando o outro não
me devolve amor é porque eu ainda não sou capaz de o amar. Tenho que
perceber o que é que eu tenho que fazer para amar, para depois poder ligar-me e
sentir isso. A Flávia diz "Nós
não vivemos nada além da nossa evolução". Cada
um de nós é que tem que evoluir para depois, a VIDA devolver-nos ao nível
evolutivo onde nos encontramos. A
VIDA devolve-nos situações muito conflituosas ou estranhas, porque ainda estamos
no nível vibratório dessas situações. Se ordenarmos (colocarmos em ordem) a
nossa vida, a VIDA irá devolver-nos situações também mais ordenadas.
PADRÃO RELACIONAL BASEADO NA
LIBERDADE
Este padrão
desenvolve-se sobretudo nos nativos que tendo aspetos tensionais entre Urano e
Vénus, também apresentam, no seu mapa, um Urano muito forte. Nestes casos, podem
sentir um grande medo de perder a liberdade e esta enorme necessidade de serem livres,
de serem eles próprios, fá-los ir buscar relações impossíveis ou a mudar frequentemente
de parceiros.
As relações
impossíveis enquadram-se perfeitamente neste padrão. De fato, os nativos com
aspetos tensionais entre o Urano forte e a Vénus, atraem, de forma inconsciente
e por defesa, este tipo de relações que lhes permitem controlar as situações,
serem livres e consequentemente poderem descobri que de fato são.
Quando optam por
relacionamentos não impossíveis, nunca se entregam e facilmente cortam e partem
para outro.
Em ambos os
casos, vivem a liberdade pelo exterior. Mas a liberdade proposta por Urano é
uma liberdade interior. O indivíduo tem que perceber que se não for livre
dentro de si, não haverá nenhum tipo de relação que suporte esta necessidade de
ser livre. Para conquistar essa liberdade interior, deverá mergulhar dentro de
si próprio para perceber quem exatamente é. Esse processo de mergulho interior necessita
que a pessoa passe por uma solidão qualquer que lhe permita descobrir o que é
que precisa de introduzir ou modificar na sua vida para que se sinta e seja livre.
Enquanto isto não for feito, os nativos com aspetos tensionais entre Urano
Vénus e que optam pelo padrão baseado na liberdade, irão fazer o processo no
exterior, em vez de o fazer no seu interior, ou seja, vão viver o Urano na
horizontal.
No geral, quem
vive o Urano na horizontal, passa de relação para relação, ficando em cada uma
apenas o tempo durante o qual dura a excitação uraniana provocada pela experiência
de algo novo, excitante, que não crie compromissos e não faça perder a
liberdade. As relações, deste modo, nunca são profundas e compromissadas, ou
seja, são arrítmicas e breves. Neste padrão, todo o relacionamento que em
tempos introduzia na pessoa uma dinâmica nova, mais cedo ou mais tarde cai na
rotina fazendo com que o nativo comece a sentir que o mesmo já não acrescenta
nada à sua individualidade, à necessidade de ser ele mesmo. Quando isso acontece,
o nativo pura e simplesmente deixa de estar na relação e corta porque já não
precisa daquele relacionamento. De fato, o nativo ia à relação buscar a
novidade e a excitação que precisava, mas dum momento para o outro, corta e vai-se
embora. O corte é o mecanismo de defesa pois o medo de perder a liberdade pode
fazer com que essas pessoas cortem. Deste modo, estes nativos podem estar com um
pé-fora e outro pé-dentro, ou seja, estão, mas não estão de fato. E este
comportamento radica na necessidade da pessoa não perder a liberdade que ainda
é mal vivida. O nativo não consegue ir até ao outro e amá-lo. É que o amar de
Vénus pode comprometer a liberdade de Urano. Deste modo, o nativo entra na
relação com o Urano ainda mal dimensionado, mal vivido interiormente. O nativo
tem medo de ser abandonado, que cortem com ele, e esse medo fá-lo, por exemplo,
preferir cortar. Normalmente os cortes são sempre bruscos porque estas pessoas
quando se sentem ameaçadas e sentem que o outro pode cortar a relação, preferem
ser elas próprias a cortar e cortam de uma forma brusca dando ares de que não
se importam com a situação, mas não passa tudo de uma atitude de desapego
mental proveniente do próprio Urano. É como se não tivessem emoções. É como um
raio que cai de repente e separa as coisas. Esse raio é proveniente da pessoa e
resulta do que se passa dentro dela própria.
Estas pessoas vão
perceber quem é que são, através da vivência de uma multiplicidade de relações
emocionais que vão tendo durante a sua vida. E os outros servem de espelho. E
estas pessoas vão perceber quem são e o que querem das relações, tendo
experiências de quem não são ou seja do que não querem. Elas vão chegar à
compreensão de fato de quem é que têm que ser tendo experiência de quem elas
não são de fato. Estes nativos, de alguma forma trazem um trauma qualquer do
passado de não saberem viver relações em liberdade, ou seja, possivelmente a
sua Vénus foi híper condicionada em vidas passadas. Numa dessas vidas a pessoa
não amou devido a um condicionalismo excessivo, talvez de segurança, e nesta
vida vem amar, mas de forma defensiva. Mas essa pessoa tem que se libertar de
todas as condições e daquilo que a impede de ser livre nos relacionamentos. Por isso é que estas pessoas crescem pelo
não. No fundo são livres contra os outros. É como se ainda não
pudessem ser livres com os outros e no amor com o outro. E de fato são pessoas
que não sabem viver em liberdade com os outros e muitas vezes sofrem com isso
porque pode haver um lado delas que deseja relações mais tranquilas e mais
estáveis e mesmo assim não as conseguem ter. Estas pessoas respeitam e prezam
muito a sua liberdade mas desrespeitam absolutamente a liberdade dos outros. A
rigidez de Urano é: "É assim,
ponto final no assunto. Tens que me amar como eu preciso, mas eu transformar-me
naquilo que tu precisas já é complicado". Há uma intransigência,
uma inflexibilidade: "Eu não
mudo". É por isso que as pessoas não sabem estar com os outros,
não sabem cooperar. E como não sabem cooperar e já têm medo do tal corte ou
rejeição, muitas vezes entram a matar nas relações com os outros porque já
estão à defesa. "Não penses que
vou ceder". Têm medo de perder a liberdade, têm medo de amar, de alguma
forma. Essas pessoas queixam-se de não conseguirem ter relações estáveis, mas
inconscientemente, por projeção e por medo, atraem relações com pessoas que não
conseguem amá-las, por serem casadas, por serem muito mais novas, por terem
problemas de homossexualidade ou por um outro qualquer paradigma que as impede
de lá estarem. Só que depois queixam-se e não percebem que o vírus está dentro
delas e que o outro não é mais nada do que o espelho da incapacidade delas de
se ligarem a eles.
Ruy Figueiredo