domingo, 22 de outubro de 2017

ASTROLOGIA. URANO VÉNUS (PARTE VII)

HOJE CONTINUAREMOS COM A PROBLEMÁTICA RELACIONAL DOS NATIVOS COM ASPETOS TENSIONAIS DE URANO À VÉNUS


Quando um planeta pessoal ou do ego (Sol, Lua, Mercúrio, Vénus e Marte) está aspetado a um planeta lento (Urano, Netuno e Plutão), o processo de transformação correspondente só ocorre quando tiver sido feito o trabalho interior.
No caso de Urano, esse processo de transformação envolve um trabalho interior de libertação dos diversos condicionalismos que aprisionam o nativo, não o deixam ser livre e não o deixam ir mais longe na descoberta de quem é de fato. Se no mapa do nativo, o Urano estiver tensionalmente ligado à Vénus, vai haver resistência no processo de transformação, o nativo terá tendência para continuar com o mesmo padrão relacional e irá continuar a atrair o mesmo tipo de parceiros, os quais, afinal, possuem caraterísticas relacionais ajustadas ao estado evolutivo do padrão relacional do nativo.
Para estes nativos, os relacionamentos acontecem quando aparece alguém que lhes acorda o sentimento do novo, diferente e excitante. Quando isso acontece, o nativo avança para o relacionamento, mas só porque houve ali qualquer aspeto que lhe "bateu forte". Mas no fundo não avança ainda pelo outro, mas avança porque o outro lhe permitirá saber mais sobre ele próprio.
Urano, regente do signo de Aquário, apela a que venhamos aprender a viver relações de igualdade, liberdade e fraternidade, ou seja, que venhamos viver relações de amor percecionando o outro como um ser igual a nós. No entanto, apesar das pessoas com aspetos tensionais de Vénus a Urano apreciarem a diferença, e sentirem-se atraídas e atraírem, muitas vezes, pessoas de meios sociais diferentes, isso não significa que as sintam como iguais e respeitem a liberdade dessas pessoas. De fato, para perceberem em que é que o outro é igual a elas, é necessário, em primeiro lugar, descobrirem quem são de fato. Quando conseguirem transformar-se e perceber quem de fato são, aí sim, irão respeitar a necessidade do outro também de se descobrir a si próprio.

Existem dois padrões relacionais associados aos maus aspetos de Urano à Vénus. Um deles é o padrão baseado na dependência e o outro, é o baseado na liberdade. Vejamos com um pouco mais de pormenor cada um dos padrões referidos.

PADRÃO RELACIONAL BASEADO NA DEPENDÊNCIA
No padrão baseado na dependência, o nativo irá atrair pessoas mais fracas e irá fomentar a dependência delas em relação a si próprio. Deste modo, o nativo sentir-se-á forte e seguro porque existe alguém fraco por detrás dele. O único senão é que o nativo fica preso. Neste padrão o nativo tem tanto medo de ser ele próprio que vive em função dos valores do outro e não à custa dos seus próprios valores. Evidentemente, que neste caso, deixa de ser livre, no sentido que não consegue perceber quem de fato é. No entanto, o apelo uraniano é muito forte e o indivíduo será forçado a encontrar os próprios valores nesta vida. E a forma utilizada será a via da comparação, ou seja, é através da constatação dos valores dos outros que o nativo começará a perceber quais os valores dos outros com os quais se identifica e aqueles com os quais não se identifica. E seguramente será por isso que estes nativos adoram viver experiências com pessoas com tipos de vida e ideias diferentes. Através da multiplicidade de experiências com pessoas diferentes, começam gradualmente a perceber com o que se identificam e com o que não se identificam, e consequentemente, a saber quem são de fato. Mas para saberem com o que se identificam precisam de experienciar em primeiro lugar a não identificação ou desidentificação, ou seja, a resolução dos conflitos relacionais faz-se através de trabalho interior, sobre as vivências de desidentificação. Estes nativos só saberão o que querem quando souberem o que não querem, ou seja, as pessoas ganham consciência do que querem quando experienciam o que não querem. A pessoa conhece-se muito mais por aquilo que o outro lhe diz que ela não é, do que por aquilo que o outro lhe diz que ela é. Flávia Monsaraz costumava dizer que nós percebemos o que é o amor tendo experiências de desamor, ou seja: Eu sei quem sou por aquilo que o outro não gosta de mim. Eu conheço-me e descubro-me quando a relação está mal e não quando está bem. Quando, numa relação, tudo está e flui bem, não há consciência relacional.
A consciência nasce, de fato, através da sensação de fim, de limite e de dor, sendo o relacionamento uma área humana propícia à experienciação desta sensação. E com o aparecimento da sensação começa a autodescoberta.
E como é feita essa auto descoberta? Como é que um relacionamento diz à pessoa qualquer coisa que ela não sabe sobre ela própria?
A resposta é muito simples e assenta no fato de, no geral, a maior parte das relações, a partir de certa altura, começarem a não devolver ou a não darem qualquer coisa. O nativo começa então a sentir-se mal e começa a perguntar a si próprio se tem ou não alguma responsabilidade no desmoronar relacional. De fato, começamos um relacionamento a querer união, fusão, e passado algum tempo sentimo-nos desunidos, desfusionais, separados do outro. O outro faz-nos sentir que não está connosco e quando tal acontece, vemo-nos obrigados a saber quem é que somos. Quando a pessoa percebe o que é que tem ou não a ver com a situação, então toma consciência de quem é. Enquanto a relação continua e ela se sente satisfeita, ela não irá crescer nas relações. A relação existe para a pessoa se observar como um ser separado e sozinho. Há medida que a pessoa vai percebendo o que tem de perceber sobre si mesma, começa a por ordem em si mesma, ou seja, começa a estruturar-se, deixa de depender ou de ter a expetativa de que o outro esteja na relação para lhe dar qualquer coisa. De fato, o outro não está na relação para dar, mas para mostrar qualquer coisa que a pessoa não sabia sobre ela própria, de modo a poder descobrir-se. Mas primeiro tem que descobrir quem é que não é, que é o que o outro está lá para induzir. É um processo de crescimento, mas por separação. E esta separação leva a quê? Leva a pessoa, em última instância, a não depender do outro. Nós dependemos porque achamos que o outro nos dá coisas que nós sozinhos, não teríamos. Só que em dada altura percebemos que temos é de ir buscar as coisas dentro de nós. O outro está lá apenas para nos ajudar a compreender isso. Quando o outro não me devolve amor é porque eu ainda não sou capaz de o amar. Tenho que perceber o que é que eu tenho que fazer para amar, para depois poder ligar-me e sentir isso. A Flávia diz "Nós não vivemos nada além da nossa evolução"Cada um de nós é que tem que evoluir para depois, a VIDA devolver-nos ao nível evolutivo onde nos encontramos. A VIDA devolve-nos situações muito conflituosas ou estranhas, porque ainda estamos no nível vibratório dessas situações. Se ordenarmos (colocarmos em ordem) a nossa vida, a VIDA irá devolver-nos situações também mais ordenadas.

PADRÃO RELACIONAL BASEADO NA LIBERDADE
Este padrão desenvolve-se sobretudo nos nativos que tendo aspetos tensionais entre Urano e Vénus, também apresentam, no seu mapa, um Urano muito forte. Nestes casos, podem sentir um grande medo de perder a liberdade e esta enorme necessidade de serem livres, de serem eles próprios, fá-los ir buscar relações impossíveis ou a mudar frequentemente de parceiros.
As relações impossíveis enquadram-se perfeitamente neste padrão. De fato, os nativos com aspetos tensionais entre o Urano forte e a Vénus, atraem, de forma inconsciente e por defesa, este tipo de relações que lhes permitem controlar as situações, serem livres e consequentemente poderem descobri que de fato são.
Quando optam por relacionamentos não impossíveis, nunca se entregam e facilmente cortam e partem para outro.
Em ambos os casos, vivem a liberdade pelo exterior. Mas a liberdade proposta por Urano é uma liberdade interior. O indivíduo tem que perceber que se não for livre dentro de si, não haverá nenhum tipo de relação que suporte esta necessidade de ser livre. Para conquistar essa liberdade interior, deverá mergulhar dentro de si próprio para perceber quem exatamente é. Esse processo de mergulho interior necessita que a pessoa passe por uma solidão qualquer que lhe permita descobrir o que é que precisa de introduzir ou modificar na sua vida para que se sinta e seja livre. Enquanto isto não for feito, os nativos com aspetos tensionais entre Urano Vénus e que optam pelo padrão baseado na liberdade, irão fazer o processo no exterior, em vez de o fazer no seu interior, ou seja, vão viver o Urano na horizontal.
No geral, quem vive o Urano na horizontal, passa de relação para relação, ficando em cada uma apenas o tempo durante o qual dura a excitação uraniana provocada pela experiência de algo novo, excitante, que não crie compromissos e não faça perder a liberdade. As relações, deste modo, nunca são profundas e compromissadas, ou seja, são arrítmicas e breves. Neste padrão, todo o relacionamento que em tempos introduzia na pessoa uma dinâmica nova, mais cedo ou mais tarde cai na rotina fazendo com que o nativo comece a sentir que o mesmo já não acrescenta nada à sua individualidade, à necessidade de ser ele mesmo. Quando isso acontece, o nativo pura e simplesmente deixa de estar na relação e corta porque já não precisa daquele relacionamento. De fato, o nativo ia à relação buscar a novidade e a excitação que precisava, mas dum momento para o outro, corta e vai-se embora. O corte é o mecanismo de defesa pois o medo de perder a liberdade pode fazer com que essas pessoas cortem. Deste modo, estes nativos podem estar com um pé-fora e outro pé-dentro, ou seja, estão, mas não estão de fato. E este comportamento radica na necessidade da pessoa não perder a liberdade que ainda é mal vivida. O nativo não consegue ir até ao outro e amá-lo. É que o amar de Vénus pode comprometer a liberdade de Urano. Deste modo, o nativo entra na relação com o Urano ainda mal dimensionado, mal vivido interiormente. O nativo tem medo de ser abandonado, que cortem com ele, e esse medo fá-lo, por exemplo, preferir cortar. Normalmente os cortes são sempre bruscos porque estas pessoas quando se sentem ameaçadas e sentem que o outro pode cortar a relação, preferem ser elas próprias a cortar e cortam de uma forma brusca dando ares de que não se importam com a situação, mas não passa tudo de uma atitude de desapego mental proveniente do próprio Urano. É como se não tivessem emoções. É como um raio que cai de repente e separa as coisas. Esse raio é proveniente da pessoa e resulta do que se passa dentro dela própria.
Estas pessoas vão perceber quem é que são, através da vivência de uma multiplicidade de relações emocionais que vão tendo durante a sua vida. E os outros servem de espelho. E estas pessoas vão perceber quem são e o que querem das relações, tendo experiências de quem não são ou seja do que não querem. Elas vão chegar à compreensão de fato de quem é que têm que ser tendo experiência de quem elas não são de fato. Estes nativos, de alguma forma trazem um trauma qualquer do passado de não saberem viver relações em liberdade, ou seja, possivelmente a sua Vénus foi híper condicionada em vidas passadas. Numa dessas vidas a pessoa não amou devido a um condicionalismo excessivo, talvez de segurança, e nesta vida vem amar, mas de forma defensiva. Mas essa pessoa tem que se libertar de todas as condições e daquilo que a impede de ser livre nos relacionamentos. Por isso é que estas pessoas crescem pelo não. No fundo são livres contra os outros. É como se ainda não pudessem ser livres com os outros e no amor com o outro. E de fato são pessoas que não sabem viver em liberdade com os outros e muitas vezes sofrem com isso porque pode haver um lado delas que deseja relações mais tranquilas e mais estáveis e mesmo assim não as conseguem ter. Estas pessoas respeitam e prezam muito a sua liberdade mas desrespeitam absolutamente a liberdade dos outros. A rigidez de Urano é: "É assim, ponto final no assunto. Tens que me amar como eu preciso, mas eu transformar-me naquilo que tu precisas já é complicado". Há uma intransigência, uma inflexibilidade: "Eu não mudo". É por isso que as pessoas não sabem estar com os outros, não sabem cooperar. E como não sabem cooperar e já têm medo do tal corte ou rejeição, muitas vezes entram a matar nas relações com os outros porque já estão à defesa. "Não penses que vou ceder". Têm medo de perder a liberdade, têm medo de amar, de alguma forma. Essas pessoas queixam-se de não conseguirem ter relações estáveis, mas inconscientemente, por projeção e por medo, atraem relações com pessoas que não conseguem amá-las, por serem casadas, por serem muito mais novas, por terem problemas de homossexualidade ou por um outro qualquer paradigma que as impede de lá estarem. Só que depois queixam-se e não percebem que o vírus está dentro delas e que o outro não é mais nada do que o espelho da incapacidade delas de se ligarem a eles.


Ruy Figueiredo